Polícia investiga agência de turismo em SC acusada de golpes que chegam a R$ 200 mil
Empresário afirma que vai pagar dívidas a 197 pessoas até o fim de 2024
Centenas de pessoas afirmam ter sido vítimas de golpe da empresa “Excursões Do Mano”, de Joinville. Os valores perdidos chegam a R$ 8 mil e envolvem pacotes de viagens de ônibus e cruzeiros, por exemplo. O proprietário da agência, Wilsimar Rocha, diz que fará todos os pagamentos até o fim de dezembro de 2024. A Polícia Civil investiga o caso.
Uma das vítimas é Solange da Silva, que planejava há um ano uma viagem de cruzeiro para comemorar a aposentadoria com as amigas. O trajeto de sete dias sairia de Itajaí e iria passar por Buenos Aires, na Argentina; Montevidéu, no Uruguai; e Santos (SP).
— Era um sonho. Foi destruído. Triste, porque fui às lojas, comprei roupas, vestido. É decepcionante — explica.
O pai de Jéssica Cunha sofreu o mesmo golpe. Ele também tinha comprado o pacote para o cruzeiro no valor de R$ 2,5 mil.
— Liguei dia 1º, dia 2, ninguém me atendia. No dia 4, ele mandou uma mensagem dizendo que não ia mais ter a viagem porque os valores mudaram muito. Confiamos nele por ser da cidade, estar no ramo de turismo, mas ficamos a ver navios — desabafa.
Andressa do Rosário, estudante, expõe que comprou o pacote em maio para uma viagem em família e pagou quase R$ 8 mil. Quando percebeu que estava sendo enganada, criou um grupo no WhatsApp. Em poucos dias, o número de participantes já passava de 100, relatando o mesmo problema.
— Pelo menos cinco anos que a gente estava planejando, guardando dinheiro para realizar esse sonho que é um pouco mais caro. Durante todo o ano, eu perguntava e ele dizia que estava tudo certo — lamenta.
Os casos de denúncias são variados. Um casal de Jaraguá do Sul destaca que comprou um pacote de viagem para ir de ônibus ao Rio de Janeiro, mas soube do cancelamento horas antes do embarque. Até hoje, não receberam o dinheiro de volta.
— A gente optou pelo ressarcimento, ele parou de responder e não atendia mais. Depois, disse que ia pagar até o dia 30 de dezembro do ano passado, mas nada até agora — diz Arlindi Marques, técnica em radiologia.
Luiz Carlos Wendorff, operador de máquinas, que iria na mesma viagem de Arlindi, aponta o mesmo cenário.
— Tenho conversas com ele em que ele diz que está devendo, que uma hora vai dar um jeito de pagar, mas fica enrolando e nunca chega a fazer o depósito — critica.
A maioria das vítimas já abriu boletim de ocorrência, acionou o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) e fez reclamações na internet. Ainda conforme elas, a empresa não tem uma sede física, sendo que os encontros eram feitos nas casas dos clientes ou coletivamente em lanchonetes.
Em dezembro do ano passado, dias antes da viagem do cruzeiro pela América do Sul ser cancelada, os responsáveis pela empresa deram baixa no CNPJ, o motivo seria a extinção por encerramento de liquidação voluntária.
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil disse que vai investigar o caso e apurar se os responsáveis agiram de forma premeditada e se tinham intenção de enganar as vítimas.
— Nós vamos verificar se houve má fé pela agência de turismo, se foi premeditado para aplicar golpe, ou se houve desacerto financeiro por parte da empresa. Se já se sabia que a empresa não iria conseguir arcar com os custos da viagem, eles podem responder pelo crime de estelionato — afirma o delegado regional de Joinville, Rafaello Ross.
Um advogado da Costa Cruzeiros, que seria a responsável por fazer o deslocamento dos clientes da empresa, ressalta que não tem agentes intermediários para venda de pacotes de viagem, que são feitas exclusivamente pelo site da empresa ou por agentes credenciados pela Embratur.
Empresário diz que vai pagar todas as dívidas
O proprietário da agência de excursões, Wilsimar Rocha, conhecido como “Mano” diz que 2023 foi um ano ruim para a sua empresa, com prejuízos e golpes, como na compra de ingressos falsos para jogos de futebol. Ele pontua que a viagem do cruzeiro para Argentina e Uruguai, quando comprou, estava em R$ 2,5 mil por pessoa, mas, depois, ficou próximo de R$ 5 mil e não conseguiu arcar com os custos.
Mano ressalta ter pego dinheiro emprestado para evitar a situação, mas não conseguiu. O aviso do cancelamento, segundo ele, aconteceu 10 dias antes da viagem, assumindo o erro da situação.
— Admito que eu fracassei no ano passado, com as pessoas que iriam no cruzeiro, em jogos de futebol. Peço desculpa e afirmo que ninguém vai ficar sem o dinheiro — fala.
Atualmente, o empresário diz que está devendo para 197 pessoas, com o total da dívida em R$ 200 mil. Apesar das cifras, ele crava que vai pagar todos os clientes até 20 de dezembro de 2024, começando em 1º de fevereiro, pelos credores menores.
— Vou pagar parcelado, mas nenhum cliente vai ser lesado — destaca.
Para arrumar o dinheiro, Mano explica que vai planejar a arrecadação por meio de quatro caminhos: viagens de compras entre Joinville e São Paulo; intermédio de venda de pacotes para outras agências; comissão em vendas de pacotes para o Carnaval no Rio de Janeiro; e venda de um produto próprio para matar moscas e formigas. A arrecadação mensal, conforme ele, será de R$ 20 mil.
*Com informações de Guilherme Barbosa, repórter da NSC TV