“Antigamente não tinha salário. Hoje em dia, isso mudou”

Morando nos fundos do bairro Vila Nova, próximo à localidade do CTG, Heronildo Renôr Gonçalves vive o período de folga propiciado pelo defeso da corvina, que vai de 15 de maio a 15 de junho. Morador daquela região desde os sete anos de idade, atualmente aos 63 anos, “seu Nêgo” atuou em praticamente todos os postos da atividade pesqueira local. Pescou com rede de arrasto, em baleeira, camaroeiro e traineira. Trabalhou em parelhas no Rio de Janeiro e, faz quatro anos, está na caça e malha da corvina, no Araçá. “Daqui, não saímos mais”, afirma, referindo-se a si na primeira pessoa do plural.

Heronildo Gonçalves foi um dos ganhadores da honraria Pescador Portobelense deste ano. A distinção é concedida pela Câmara de Porto Belo a homens e mulheres que fazem da pesca um meio de vida e, através de suas trajetórias, mantêm viva a tradição e a economia que historicamente associam Porto Belo ao mar. A lei que a regulamenta, de número 2898, foi sancionada em 2020. Terceiro ano em que a cerimônia ocorre, em 2024 a entrega foi feita na primeira semana de julho.

Seu Nêgo também já foi cozinheiro, gelador e, agora, é homem de convés. É parte de uma tripulação de seis pessoas, que partem em pescarias que duram quinze dias. Antes, uma viagem durava um mês inteiro, mas, como ele diz, o peixe ficava muito “bagueado”, em razão do tempo armazenado no gelo. “Hoje, a pescaria fica mais bonita e o preço aumentou um pouquinho”, destaca.

Casado, tem um filho e uma filha adultos. Diego, 32 anos de idade, não o acompanhou na profissão. Trabalha na construção civil. Seu Nêgo não se ressente, pois sabe que a vida que leva pode ser traiçoeira. Uma noite, foi ao mar junto com um colega quando o caíco, o bote de madeira em que estavam, afundou. Ficaram duas horas à deriva e ele só voltou a ver a família porque seu companheiro não desistiu dele: “Você não vai morrer, não”, o outro assegurou.

Em tempo de se aposentar, seu Nêgo não estipula prazo de parar. Nem projeta trocar a pesca por um emprego em terra, em tese mais seguro — embora, em sua opinião, menos vantajoso economicamente. Se, quando começou, não havia muita garantia (“antigamente não tinha salário”), a realidade agora é outra. Portanto, ainda que dê baixa na carteira de trabalho, descansar não está no horizonte: “Enquanto tiver força, a gente vai lutando”.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Resize text-+=