Último áudio e foto crucial: desaparecimento de pescadores em SC tem fim a centenas de km

A angústia dos familiares de Adolar Angel e Sérgio Ignowsky pelo desaparecimento dos pescadores chegou ao fim. Os corpos dos moradores de Joinville foram encontrados em São Paulo, a centenas de quilômetros da Ilha da Paz, em São Francisco do Sul, onde tiveram o último contato com a família há cerca de 30 dias. Nas últimas mensagens de áudio enviadas no dia 8 de julho, Adolar disse que eles iriam se atrasar por estar com o barco cheio de peixe e, em outra gravação, alertou sobre as condições climáticas adversas.

“Estamos com um monte de peixe”, diz pescador antes de desaparecer

“Ó mãe, avisa que vamos chegar um pouco mais tarde. Estamos com um monte de peixe e temos que ir devagar. Tem sororoca de até 5 quilos e pouco, caratinga, guaivira, bagre”, contou. “Se alguém quiser ir se preparando para vir para fora, diga para não vir. Vento, o mar está agitado. Soltamos a rede e vamos esperar para recolher e qualquer coisa, vamos embora. Não se preocupe”, continuou.

Corpo é finalmente localizado

Essa foi a última vez que a família teve notícias de Adolar. O corpo do pescador foi encontrado na sexta-feira (02) em Cananéia, cidade que fica a, aproximadamente, 418 quilômetros do Litoral Norte catarinense. “Não aceitava ele perdido lá no mar. Eu dizia: ‘Senhor, manda ele de volta e manda para um anjo trazer ele para nós, não importa como ele vai vir’”, conta a esposa de seu Adolar, Maria de Fátima Ferreira. O corpo foi encontrado por um grupo que estava em mar aberto pescando camarões. “Quando avistaram, acharam estranho. No mesmo momento, eles enrolaram meu pai em uma rede de pesca, colocaram umas três boias nos cantos e rebocaram o corpo até a beirada da praia”, relata Rosane Engel, filha do seu Adolar.

Filha identificou pai através de uma foto

Segundo Rosane, o corpo do pai foi encontrado por volta das 18h ou 19h, mas a família foi informada apenas às 2h da madrugada de sábado (03) por um dos responsáveis pelo resgate. A filha pediu aos pescadores que enviassem uma foto para que ela pudesse identificar o pai. “Eles disseram: ‘a gente não quer mandar foto porque está em um estado muito avançado de decomposição’. Com muita luta eles mandaram uma foto e eu já identifiquei ele”, relembra. Rosane conta que os pescadores ficaram com o corpo de seu Adolar desde o momento que o encontraram até umas 9h de sábado quando o Corpo de Bombeiros Militar foi até o local para fazer a retirada do cadáver do local. “Ficaram todas essas horas, todo esses momentos ali cuidando do restinho que tinha ainda do meu ali para não se voltar para a água”, conta Rosane, com gratidão à gentileza dos profissionais. “Agora há pouco eu ainda conversei com ele [um dos pescadores] e falei assim: ‘Júnior, você é um anjo enviado por Deus, porque aquela angústia, aquela tristeza teve fim’. Aí ele ainda falou: ‘eu fiz por vocês o que eu faria por qualquer um, porque eu sou pescador. E se um dia for esse o meu fim, eu quero que alguém faça o mesmo pela minha família, porque sei que a minha família também vai estar angustiada’”, relembra Rosane.

Pescadores eram experientes

Seu Adolar e Sérgio eram pescadores experientes, apesar do sustento de suas famílias não virem apenas da pesca. Iam para o mar aberto há, pelo menos, 50 anos. “De repente, o tempo mudou, as ondas ficaram muitas altas, o vento ficou muito revolto. E ali só Deus sabe o que realmente aconteceu”, diz a filha de Adolar. Rosane conta ainda que o pai foi encontrado sem a bota que usava, pois ela poderia ajudar a afundar devido ao peso. “Para ver a experiência que ele tinha, ele tirou. E da forma que o corpo dele foi encontrado na água, de acordo com o que o Corpo de Bombeiros de lá [São Paulo] falou, ele ficou tentando nadar, ficou uns cinco dias vivo na água. Tudo indica que ele nem morreu afogado, ele morreu de hipotermia”, pondera Rosane. Os corpos dos pescadores ainda estão com a Polícia Científica de Registro e Santos, cidades de São Paulo. Rosane vai até o Litoral paulista, na madrugada desta segunda-feira (05), para fazer a liberação do corpo do pai. A despesa para trazer seu Adolar para Joinville deve ficar em torno de R$ 12 mil.

Campanha de arrecadação

A família criou uma campanha de arrecadação para juntar fundos para realizar o translado do corpo de seu Adolar e fazer a despedida na cidade. Apenas a urna com zinco custará R$ 3.950. Já o transporte ficará em R$ 2.429,20, com o acréscimo de R$ 44,80 por causa do pedágio. Para quem puder e quiser ajudar, a família aceita contribuições por meio da chave Pix 47 99637-7082, no nome de Rosane Engel.

Corpo de Sérgio também é localizado

Sérgio Ignowsky foi encontrado na última terça-feira (30) em Itanhaém (SP), a mais de 500 quilômetros de distância de São Francisco do Sul, de onde saiu para pescar junto com o amigo em uma manhã de segunda-feira. “Às 18h20, eles disseram que estavam próximos à ilha, que o barco estava cheio e que voltariam devagar devido à chuva e às ondas fortes, mas depois disso não tivemos mais contato”, conta Jessica dos Passos Camargo, sobrinha de Sérgio. (ND Mais)

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