Desastres naturais e danos à pesca e maricultura: mudanças climáticas têm potencial influência na costa de SC, aponta estudo

Artigo foi publicado em revista nacional sobre ciência aquática e tecnologia. Estudo aborda também saúde pública, cidades, portos, turismo e conservação da biodiverside.

Um artigo sobre a potencial influência das mudanças climáticas na costa de Santa Catarina aborda desastres naturais, danos à pesca e maricultura e menos oxigênio no oceano, entre outros fatores.

O documento, publicado na revista nacional Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, sobre ciências ambientais, ambientes aquáticos e costeiros, mostra que a região de Florianópolis, por exemplo, teve risco aumentado para desastres ligados ao excesso de chuva.

Além disso, a pesquisa aponta alterações e impacto negativos no turismo e na disponibilidade dos animais pescados (veja abaixo).

Efeitos das mudanças climáticas

O estudo apontou possíveis efeitos das mudanças climáticas nas cidades, portos, pesca, maricultura, conservação da biodiversidade, turismo e saúde pública. Confira abaixo.

Cidades

🏙️A região central da costa catarinense, onde há maior ocupação urbana adensada, como a Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, tende a ser a mais suscetível aos efeitos das mudanças climáticas, com risco aumentado de ocorrência de desastres naturais, devido à chuva excessiva.

🏞️O litoral centro-norte é naturalmente susceptível a cheias, uma vez que, além da ocupação urbana, há bastante rios. De fato, a região tem um histórico de ocorrência de inundações, tais como as registradas no estuário do rio Itajaí-Açu.

Imagem mostra os estragos da enxurrada em Presidente Getúlio, no Vale do Itajaí, em 2020 — Foto: Marcos Schmidt/NSC TV

Imagem mostra os estragos da enxurrada em Presidente Getúlio, no Vale do Itajaí, em 2020 — Foto: Marcos Schmidt/NSC TV

🌅 No litoral Sul , os riscos de desastres naturais associados à chuva são reduzidos, devido à baixa taxa de ocupação urbana e à predominância de restingas, dunas e lagoas costeiras.

Portos

🌊Podem sofrer efeito direto do aumento de eventos extremos, seja pelo aumento do nível do mar por um lado, com o aumento da frequência de marés altas e ressacas, seja pelo efeito de eventos de fortes chuvas no lado continental, o que resulta no aumento da probabilidade de enchentes, no represamento de água e pelo assoreamento dos canais de navegação.

🚢O aumento da probabilidade de ocorrência de eventos que afetam os portos, como extremos de chuvas, ventos, enchentes e, por consequência, as correntes, impõe aumento do risco de dano às estruturas portuárias e interrupções na movimentação de cargas.

Pesca

🦀Nos manguezais, o aumento do nível do mar e da incidência de eventos extremos têm potencial para causar erosão e prejudicar os habitats de animais como o caranguejo-uçá, o baiacu e os moluscos sururu e bacucu. Esses ambientes também podem abrigar as fases iniciais do ciclo de vida de espécies de rio e marinhas.

🦐Em regiões de laguna, processos de aumento de sal e diminuição do oxigênio na água, já apontados como potenciais componentes das mudanças climáticas nesses ambientes, têm potencial para alterar a disponibilidade dos animais pescados nesses locais, como o camarão-rosa, o siri-azul e a tainha.

Pesca da  tainha na Barra da Lagoa, em Florianópolis, em 22 de maio de 2024 — Foto: Lucas Amorelli/NSC

Pesca da tainha na Barra da Lagoa, em Florianópolis, em 22 de maio de 2024 — Foto: Lucas Amorelli/NSC

🏖️No caso das praias, elas são ambientes dinâmicos altamente sensíveis às alterações de linha de costa provocadas pela subida do nível do mar e a intensificação dos eventos climáticos extremos, como os ciclones extratropicais.

🐟A intensificação dos eventos climáticos extremos e a diminuição do oxigênio e o aumento da acidez no oceano já podem estar afetando de forma sinérgica o desenvolvimento de diferentes espécies.

Maricultura

🦪O aumento da acidez no mar tem potencial para afetar organismos de cultivo, já que muitas formas larvais de invertebrados marinhos apresentam sensibilidade ao baixo pH, além de problemas associados à calcificação das conchas.

Conservação da biodiversidade

🐋No caso das baleias-francas, presentes no litoral catarinense nesta época de inverno, a espécie tem experimentado áreas marinhas onde o aumento da temperatura da água tem ultrapassado as médias do Oceano Atlântico.

Mamãe baleia-franca com filhote recém-nascido nadam em praia de Imbituba — Foto: ProFranca/Divulgação

Mamãe baleia-franca com filhote recém-nascido nadam em praia de Imbituba — Foto: ProFranca/Divulgação

🦅Diversas espécies de aves marinhas também podem sofrer impactos com a mudança climática. Filhotes de albatrozes-de-sobrancelha-negra, por exemplo, apresentam menores chances de sobrevivência com o aumento da temperatura da água.

🦭Outras espécies de águas frias, tais como os lobos-marinhos subantárticos e elefantes-marinhos, têm ocorrência mais esporádica em Santa Catarina. Porém, devido à dependência de fatores ambientais para seu deslocamento, provavelmente serão afetadas por mudanças no clima.

Turismo

🚤O turismo é sensível aos efeitos de mudanças climáticas sobre o oceano, com destaque para o efeito de furacões e alagamentos sobre destinos litorâneos, condições de navegação de embarcações de turismo deterioradas, por causa das frequentes tempestades, ondas de calor ou frio e outros.

Saúde

🌪️ Os impactos diretos das mudanças climáticas na saúde humana resultam de eventos extremos do clima, como ondas de calor e de frio, furacões, inundações (enchentes e enxurradas), queimadas e secas.

🦠 Indiretamente, as alterações nos ecossistemas e seus ciclos biológicos e geoquímicos, podem modificar o perfil epidemiológico de doenças já existentes, emergentes e reemergentes.

🪼Uma outra questão associada à saúde pública envolve as queimaduras (envenenamento) por águas-vivas durante o período de verão em toda a costa de Santa Catarina. Apesar de ser um fenômeno normal e com a participação de espécies relativamente com menor poder de dano aos banhistas, como a classe Hidrozoa, existe a possibilidade de agravamento do fenômeno pelas alterações climáticas.

Caravela-portuguesa na orla da praia da Cachoeira do Bom Jesus, em Florianópolis — Foto: Bibiane Tonelero da Silva/Divulgação

Caravela-portuguesa na orla da praia da Cachoeira do Bom Jesus, em Florianópolis — Foto: Bibiane Tonelero da Silva/Divulgação

Aportes continentais e padrões de vento interferem diretamente no recrutamento das espécies de águas-vivas, assim como na sua ocorrência na zona de arrebentação. Além disso, espécies mais perigosas e até mesmo mortais, como o grupo cubozoa, podem aumentar a frequência em áreas de banho onde normalmente não ocorrem.

Entenda estudo

 

O artigo, chamado “A Zona Costeira e Marinha de Santa Catarina Diante dos Cenários de Mudanças Climáticas: prioridades para a geração de subsídios científicos”, foi escrito por 12 pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali): Jose Angel Alvarez Perez, Mauro Michelena Andrade, André Silva Barreto, Vivian de Mello Cionek, André de Oliveira Souza Lima, Rosemeri Carvalho Marenzi, Carolina Mussi, Jurandir Pereira Filho, Marcus Polette, Charrid Resgalla Júnior, Marcus Adonai Castro da Silva e Luciano Torres Tricarico.

“Esse artigo foi desenvolvido com o intuito de chamar a atenção principalmente da academia e dos cursos de pós-graduação em ciências ambientais do estado para direcionar esforços à compreensão das possíveis transformações ecossistêmicas em curso na zona costeira e suas consequências às atividades humanas”, resumiu o professor Jose Angel Perez, um dos que assina o artigo.

“A ideia era trazer o conhecimento geral sobre tudo o que possa estar acontecendo, mas precisa de evidências científicas para comprovar. Organizar o debate para facilitar uma ação coordenada das ciências ambientais para atender o planejamento e tomada de decisão”, completou.

Uma explicação inicial

 

Conforme o artigo, gases de efeito estufa, como o gás carbônico (CO₂), vapor de água, metano e óxido nitroso, absorvem a radiação infravermelha emitida pela superfície da Terra (aquecida pela radiação solar), e convertem essa radiação em calor aquecendo a atmosfera.

Isso ocorre desde a Revolução Industrial, no século 19. Desde então, houve um aumento de 40% de CO₂ na atmosfera.

Oceanos absorvem parte desse calor e ocorrem mudanças climáticas, como o aumento na frequência de tempestades, menos oxigênio na água e o degelo das calotas polares. A absorção do CO₂ pelos mares também aumenta a acidez na água.

Fonte: NSC TV

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