Câmara institui normas para manejo de abelhas sem ferrão

Projeto visa visibilizar a meliponicultura no município, que sofre com o “fumacê”

Elas estão entre nós — embora pouco nos demos conta de sua presença, menos ainda de sua importância. Falamos das abelhas nativas, as melíponas, ou abelhas sem ferrão, insetos que desempenham papel vital na polinização de matas e pomares. “Não existe uma fruta que não precise de abelha”, afirma o empresário Aldo José Brando, 43 anos de idade. Morador da localidade do CTG, ele é um dos poucos meliponicultores existentes no município. Um grupo quase tão discreto quanto as abelhas que cultiva — mas que agora reivindica visibilidade. Em resposta, o Governo Municipal sancionou um projeto de lei da Câmara de Vereadores que visa promover e proteger a atividade.
Sancionada em março deste ano, a Lei Municipal 3417 dispõe sobre a criação, manejo e a comercialização de abelhas nativas. Entre os objetivos está a divulgação e manutenção da meliponicultura, o incentivo ao consumo de produtos derivados, a proteção de insetos polinizadores de modo geral e a promoção de atividades pedagógicas com foco na importância das abelhas nativas para o ecossistema.
O autor da matéria, o vereador Gilberto Pedro (MDB) disse que o projeto surgiu de conversas com meliponicultores. Pessoas como Aldo, que iniciou na atividade faz quatro anos. Ele possui dez colmeias, ou caixas, que mantém por hobby. Segundo afirma, essa é a realidade da maioria dos meliponicultores locais. “Não é uma abelha muito viável”. O empresário buscou o apoio da Câmara porque acredita que seu grupo precisa de respaldo do poder público. Especialmente por conta da ameaça do “fumacê”.
Método de combate ao mosquito da dengue, o inseticida de aplicação a ultra baixo volume (UBV) tem sido usado em áreas do município onde há focos do Aedes aegypti. Normalmente, a pulverização ocorre ao amanhecer. O problema, aponta Aldo, é que o fumacê não é seletivo: mata qualquer inseto com o qual tenha contato. Embora faça outras ressalvas em relação ao UBV, sua principal preocupação é com relação ao cronograma de aplicação do veneno. Às vezes, alega, o Departamento de Vigilância Epidemiológica não avisa quando o “carro do fumacê” passa nas localidades, o que impede que os meliponicultores se previnam, mantendo as abelhas nas caixas.
Aldo ainda não perdeu nenhuma por causa do veneno. O jardineiro Rafael Gonçalves, 36 anos, sim. Foi no final do inverno do ano passado. Quase vinte caixas foram abatidas. Com elas, amargou um prejuízo de R$ 15 mil. Verdade seja dita, Rafael não tem certeza se a culpa foi do fumacê. A única certeza que tem é que desistiu do cultivo. “Não quero mais”.
A diretora da Vigilância Epidemiológica, Patricia Araujo, explica que, em razão do elevado número de casos notificados (1.133, sendo 345 confirmados, segundo boletim divulgado no dia 8), o departamento tem tido dificuldade em estabelecer cronogramas: “Chegam os resultados e já temos um tempo hábil para aplicar no local, para que não haja proliferação ainda maior”. Ele diz que o órgão mantém contato com um dos criadores, a quem alerta quando há pulverização, e essa pessoa avisa os demais. Também informou que é possível saber quando haverá fumacê através do “Dengue Zap”: (47) 99253-7395.
O vigia Luiz Fernando Rocha, 40 anos de idade, também teve baixas em sua produção. Oito caixas, um ano e meio atrás. Atualmente, entretanto, não tem tido problemas. A comunicação da Vigilância Epidemiológica tem ocorrido normalmente. Mesmo assim, Luiz é outro que está dando um tempo: “Não tem incentivo”. Diferente dos colegas, o morador do Alto Perequê, que começou no cultivo por influência do avô, vislumbrava um retorno financeiro com a atividade. Maneja em torno de 70 colmeias, que abrigam 25 espécies.
Segundo o site do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram), vinculado à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o Estado abriga cerca de 35 tipos de abelhas sem ferrão, de um universo de 300 espécies existentes no Brasil. Desse total, 40 são melíponas; o restante são trigonas, que se diferenciam das primeiras pela maneira como produzem suas rainhas. E há também por aí as africanas. Introduzidas no país por volta de 1950, foram acidentalmente soltas na natureza e se espalharam pelo País. São, até hoje, responsáveis pelo temor que as pessoas têm das abelhas.
“Pensou em abelha, pensou em ferrão”, reconhece Luiz Fernando. De fato, as africanas são agressivas. As nativas, não custa reforçar, não são. Porém, há muita desinformação. Aldo Brando já foi criticado por manter colmeias próximo de uma escola, embora suas abelhas seja inofensivas. Por isso, ele acha importante falar sobre isso nas escolas, além de haver um apoio, por parte do poder municipal, que permita aos meliponicultores sair do amadorismo. Nesse sentido, Luiz Fernando acredita que o projeto aprovado pela Câmara é um primeiro passo. Já o vereador que propôs a lei vê a criação de uma associação como o passo seguinte. “Esse é o caminho”, avalia.

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