Transporte coletivo único? Projeto de mobilidade urbana visa melhorias no Litoral Norte em 2030

União dos municípios tem conquistado etapas importantes para operação de transporte coletivo único em 11 cidades

Tornou-se comum o fluxo de pessoas nos municípios da Foz do Itajaí na alta temporada. Mas o que também é frequente, é o trânsito com filas e a demora de deslocamento tanto de turistas quanto moradores e trabalhadores na região.

Atualmente, uma pessoa que está em Balneário Piçarras e deseja se deslocar até Bombinhas utilizando transporte público, terá que desembolsar aproximadamente R$ 23 e tomar três ônibus de empresas diferentes, e levará em torno de quatro horas para fazer o percurso de pouco mais de 68 quilômetros.

O exemplo é citado pelo coordenador da UCP, Unidade de Coordenação do Projeto Promobis, João Luiz Demantova, que defende a urgência de um novo modelo de mobilidade urbana para a região, visando privilegiar o usuário final.

Atualmente a região conta com 800 mil habitantes e 600 mil veículos, de acordo com dados do Censo de 2022. Mas no verão esse número aumenta para 2 milhões de pessoas interessadas em se locomover entre as cidades e pontos turísticos, mas que acabam enfrentando trânsito conturbado, linhas e horários de ônibus desencontrados e tarifas com valores e formas de pagamento diferentes.

Pensando em uma solução para continuar com o desenvolvimento econômico e social da região que por décadas cresceu e multiplicou sua população, a Amfri, Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí.

Atuante há mais de 45 anos pelos interesses das cidades, se mobilizou para a execução de um projeto que pudesse resolver os problemas de deslocamento na região, focando em soluções que integrassem os territórios de Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Bombinhas, Camboriú, Ilhota, Itajaí, Itapema, Luiz Alves, Navegantes, Penha e Porto Belo.

Com isso, houve a criação do CimAmfri, Consórcio Intermunicipal da Região da Amfri, e com ele o desenvolvimento do Promobis, Projeto de Mobilidade Integrada Sustentável da Região da Foz do Rio Itajaí, que permite a contratação de crédito externo, junto ao Banco Mundial para a execução de um plano de desenvolvimento e mobilidade regional dividido em quatro etapas.

Sendo elas: implantação de um sistema de ônibus que conecte todas as cidades da região; construção de um túnel imerso entre as cidades de Navegantes e Itajaí; projeto de mobilidade para Balneário Camboriú; e capacitação institucional para quem vai operar no dia a dia de todas as implementações.

Os quatro componentes Promobis têm um único objetivo: melhorar a acessibilidade e mobilidade de forma inclusiva e com baixas emissões em áreas selecionadas da região.

Integração dos meios de transporte oferece flexibilidade para usuários

O Promobis foi desenvolvido com o conceito de MaaS, ‘Mobilidade como Serviço’ em tradução para a língua portuguesa, que se baseia no fornecimento de transporte sob demanda buscando melhorar a mobilidade urbana por meio da integração e flexibilidade, com as premissas de dar ao usuário final a possibilidade de escolher para onde quer ir, como quer ir e como quer pagar.

Dentre as vantagens para o usuário final, estão a possibilidade de poder escolher se deseja fazer um trajeto de ônibus, carro, bicicleta ou patinete, por exemplo. O pagamento da tarifa única também se adequa à escolha do usuário: dinheiro, cartão de passe, crédito ou débito.

Além disso, uma plataforma de monitoramento em tempo real para todos os meios de locomoção apresenta horários e localização dos transportes coletivos, permitindo o melhor planejamento e gestão de tempo.

Na região da Foz do Itajaí, a abrangência do STCR, Sistema de Transporte Coletivo Regional, será dividida em quatro:

Sistema Central: Camboriú – Balneário Camboriú – Itajaí – Navegantes;

Sistema Norte: Navegantes – Penha – Balneário Piçarras;

Sistema Sul: Balneário Camboriú – Itapema – Bombinhas – Porto Belo

Sistema Oeste: Itajaí – Ilhota – Luiz Alves

Demantova estima que quando o STCR for concluído, a viagem de Balneário Piçarras à Bombinhas citada como exemplo teria a duração de aproximadamente uma hora e meia, ao custo de R$10, graças ao transporte integrado.

Para isso, estudos realizados pela Amfri, CimAmfri e Banco Mundial, financiador do projeto, detectaram que para a construção e execução do projeto de transporte, serão necessárias obras que incluem uma infraestrutura para a criação de faixas preferenciais, pontos, estações e terminais de ônibus, centros de controle e operação, e 70 quilômetros de ciclovias. Em contrapartida, será necessária a aquisição de terrenos e desapropriações, além da aquisição dos ônibus.

Ônibus elétricos

Os ônibus elétricos utilizam a eletricidade armazenada na bateria para impulsionar o motor. Alguns modelos são recarregados por uma tomada alimentada pela rede elétrica, outros capturam a energia cinética dos freios regenerativos e a transformam em eletricidade ou ainda utilizam gás hidrogênio como fonte de energia para produzir eletricidade.

No Brasil, os ônibus elétricos já estão rodando pelas ruas de cidades como São Paulo, Brasília e Curitiba. Apesar de custar até três vezes mais do que um veículo convencional, o mercado tem apontado quedas nos valores ao longo dos anos e da popularização deles. O motivo dos valores altos é o motor, que chega a custar 50% do preço final.

Além do STCR, o Promobis trabalha para que mais duas grandes obras de melhoria sejam implantadas na região da Foz do Itajaí. O segundo objeto da empreitada é o túnel imerso que será construído para ligar as cidades de Navegantes e Itajaí, que são divididas geograficamente pelo rio Itajaí-Açu.

Projeto de túnel entre Itajaí e Navegantes é apresentadoProjeto de túnel entre Itajaí e Navegantes é apresentado – Foto: PROMOBIS

Essa edificação seria uma alternativa mais rápida e barata ao transporte terrestre pela BR-101, que toma mais de uma hora dos transeuntes, e ao transporte aquático, de balsa, que soma à travessia de 10 o tempo de espera para acessar a plataforma, considerando horários de pico e a capacidade da balsa, que comporta de 30 a 40 veículos;

Outra reclamação frequente dos usuários é que a empresa operadora do sistema de transporte aceita somente pagamento em dinheiro. Segundo Demantova, o trajeto feito pelo túnel será concluído em menos tempo e ao custo de pedágio de R$ 10.

Para a construção e implantação do túnel, é necessário investimento em projetos de engenharia e estudos geotécnicos e pesquisa e análise de viabilidade e estruturação, mas três fatores foram decisivos para a escolha final:

inexistência de limitação na expansão das atividades portuárias no local de implantação; menor extensão das rampas de acessos, que diminuem os impactos sociais e econômicos oriundos das desapropriações e causam menor interferência na paisagem e ordenamento urbano; maior atratividade para a mobilidade ativa (ciclistas e pedestres), consideradas as características geométricas.

O terceiro componente do Promobis é a mobilidade ativa e micromobilidade elétrica e inclusiva pelas ruas de Balneário Camboriú, com a implantação de corredores de mobilidade, ciclovias e rotas seguras, e atenção à resiliência climática da cidade, por exemplo.

A implantação do projeto de mobilidade no município inclui restauração de ruas para que se tornem preferenciais para pedestres e ciclistas, elementos de valorização da paisagem, obras para a travessia na BR-101 e de drenagem.

Além da aquisição de veículos de mobilidade elétrica, como ônibus, bicicletas e patinetes e faixas exclusivas para transporte público. A cidade terá também uma atenção especial na Orla Central, que receberá obras de engenharia como readequação às vias de acesso, cruzamentos elevados e bolsões de estacionamento temporários.

Há ainda o quarto componente do projeto Promobis, que trata do gerenciamento do projeto, capacitação institucional, estudos de viabilidade, gestão de demandas, treinamentos para capacitação dos profissionais atuantes em cada etapa e contrapartida com programas sociais, que é uma das exigências do Banco Mundial mediante o empréstimo do valor que será investido.

Modo de financiamento será o primeiro aplicado no Brasil

O investimento inicial para a implantação total do Promobis é de US$ 120 milhões, quase R$ 600 milhões. Desse valor, US$ 90 milhões serão investidos pelo Banco Mundial, dando ao Promobis o título de primeira operação de financiamento para consórcio público da Instituição no Brasil.

Os US$ 30 milhões restantes serão fruto do investimento de Balneário Camboriú, Itajaí e Navegantes como contrapartida. Por meio do Fundo de Mobilidade PL 196/2020, os outros oito municípios contribuirão com um valor aproximado de US$ 22 milhões. O prazo para ressarcimento ao Banco Mundial será de cinco anos de carência e 25 anos para pagamento.

Os critérios para o rateio do SCTR e do componente quatro (gestão do projeto), estimado em US$ 72 milhões, foram definidos a partir de demanda, população, receita corrente líquida e custo de infraestrutura de cada localidade; para o túnel imerso, que vai custar US$ 8 milhões, analisou-se origem e destino; os custos para o desenvolvimento de Balneário Camboriú, estimados em US$ 38 milhões, são exclusivos do município.

Atualmente o projeto, que começou a ser operacionalizado em 2016, está se encaminhando para a etapa de negociação, mas já conseguiu aprovações importantes nas esferas municipais, estadual e federal.

A próxima fase será a de execução e está programada para começar em julho de 2024 e terminar em junho de 2030. O Promobis prevê ainda que a última etapa, na qual os resultados começarão a ser vistos, acontecerá entre julho e dezembro de 2030.

QUADRO COM RATEIO

Balneário Camboriú: 46,24%

Balneário Piçarras: 1,69%

Bombinhas: 2,02%

Camboriú: 5,32%

Ilhota: 0,81%

Itajaí: 24,42%

Itapema: 4,54%

Luiz Alves: 0,68%

Navegantes: 10,46%

Penha: 2,25%

Porto Belo: 1,57%

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